quarta-feira, 30 de junho de 2010

EDUCAÇÃO EM LUTO

A perda de uma pessoa seja ela por qual for o motivo ou razão, tende sempre a causar um impacto, uma emoção no semblante das pessoas. No momento em que adentramos a esta terra, recebemos a graça de Deus pela vida concebida. Somos inseridos no mundo aos cuidados da família e dos grupos sociais que faremos parte. Aprendemos a engatinhar, ao uso da linguagem, nossos membros se alimentam e, então, passamos a andar. Recebemos proteção, carinho, atenção e os preceitos básicos para vivermos dignamente, ensinados por nossos pais.
Daí em diante criamos uma identidade, um status, um nome. Determinamos e somos determinados pelas leis da natureza, por ela ser dádiva de Deus representada aqui na na terra para nos provê de nossas necessidades vitais. Criamos ademais, laços sociais,geramos famílias, filhos, formamos as árvores genealógicas humanas. Nascem as clãs, as comunidades, as vilas, as cidades. Passamos a viver sob leis humanas.
Nas relações sociais conhecemos pessoas, grupos de pessoas, as quais passamos a obter laços de amizade, de amor, de cordialidade, de coletivismo, de calor humano verdadeiro. Convivendo com essa ou essas pessoas, discernimos seu(s) valor(es), sua(s) personalidade(s). Ficamos alegres com suas alegrias e tristes com suas tristezas.
Hoje, 30 de junho de 2010, eu, e acredito que todas as pessoas que viram e conviveram com o professor Everaldo Coelho, se encontram mui tristes com a perda de nosso amigo, colega e companheiro. Sua morte, causada por um lamentável acidente com arma de fogo, emocionou-me bastante. Acordei cedo, como de hábito, fiz o café e abri a porta para comprar pão. Quando lá cheguei, dona Sebastiana, vó da "nenoca" me comunica tal fato. Voltei pra casa chorando bastante. Naquele momento, sobreveio-me a lembrança de que, há poucos meses atrás, eu estava internado, em Teresina, ponteando entre a vida e a morte. Durante dias, passei por muitas provações. Mas a mão de Deus me sustentou e me livrou do vale da sombra da morte. E acredito que meu amigo e sua familia também passou por muitas dores, angústias e aflições. Agora ele jaz. Descansa.
Enquanto viveu neste lugar, nesta cidade, o professor Everaldo sempre foi um homem de luta. Ainda menino, ajudava o pai nas tarefas do dia a dia. Gostava de mata, bichos, era apegado a trabalhos rústicos. Cresceu, foi estudar em outra cidade e concluiu a educação básica. De volta a sua cidade, foi aprovado em concurso municipal. Começava assim, uma nova etapa em sua vida. Casou-se, construiu uma familia, um lar.
Mesmo trabalhando como professor, Everaldo ainda arrumava tempo para outras duas atividades que ele amava muito: futebol e caça. No futebol, dedicou-se bastante a seu time de coração - o NÁUTICO FUTEBOL CLUBE - . Sagrou-se campeão local várias vezes. E eu sinto-me mui feliz em ter participado dessa história.
A caça era um hobbie que ele já praticava mesmo antes de ser professor. Gostava de sair cedo de sua casa, às vezes acompanhado,às vezes, sozinho. E foi exatamente quando foi para a caça sozinho que o lamentável acidente aconteceu. Foram horas agonizando, se arrastando pelas veredas, até o socorro chegar. Levado ao SOCORRÃO, em Presidente Dutra, passou por cirurgia, ficando este internado por quase um mês. No dia dia 30 de junho de 2010, já pela madrugada, seu coração deu o último suspiro de vida. Era hora de partir.
Everaldo Coelho deixa sua esposa, três filhos e uma vida de homem marcada pela leadade, dignidade de caráter e luta. Seu exemplo nos serve de ânimo e lição de vida. Com ele aprendemos o significado do valor que devemos dar as coisas que gostamos.
Obrigado meu amigo, sentiremos sua falta.
Homenagem: Professor Roberto A. Lima.

domingo, 27 de junho de 2010

PÉ DO DO MORRO DE MUITAS PAIXÕES

Quando olho pra minha cidade,hoje, às vezes nem acredito, que há pouco tempo atrás,a siuação era bem diferente. Sendo ainda Pé do Morro, eu cresci como todo menino do interior. Gostava de jogar bola, bola de gude. Também empinava pipasnos outonos de ventoforte e jogava pião.
Era uma vida pacata como a de todo interior desse imenso Brasil. O sossego era a marca registrada por aqui. Não havia barulho de carros ou motocicletas. A gente brincava no meio da rua de areão ou chão batido. O arroz e o feijão trazidos das roças eram secados nas calçadas ou em terreiros de chão batido. Nas calmas tardes, homens e mulheres pegavam os kibandes e iam debulhar o feijão na porta de suas casas, sentados em tambores de madeira e couro ou então em jacás. Fumavam cigarros de palha para passar o tempo.
Quando o arroz estava pronto para consumo, as mulheres usavam o velho pilão de madeira: batiam, até o arroz se desprender da casca; depois era abanado em kibandes para limpar o ouro branco. A maior parte do arroz era armazenado dentro das próprias casas para ser consumido ao longo do ano pelas famílas.
As meninas gostavam de jogar "carimbo" no horário de recreio do velho colégio "Distrital Israel". Era um momento de grande divertimento. Algumas dessas meninas ficaram marcadas como tendo grande habilidade na arte de jogar e defender feita de meio e recheada de trapos. Dentre as mais consagradas merecerm destaque, a Marilene do finada Da Cruz, a Maria do finado Z´Contente, Rosilda, filha do comerciante Diolino, a Ivoneide da dona Dóca, Dilã, filha da dona Marli,entre outras...
Momentos inesquecíveis também foram os famosos pic-nics organizados, ora pela Ivoneide da dona Dóca, ora pelo Elias de dona Bastiana. Esses pic-nics eram bastantes movimentados. As pessoas convidadas levam alimentos e bebidas. A comida era feita em grandes panelas pretas, aquecidas por fogo a lenha. Enquanto se fazia a refeição, as pessoas brincavam, bebiam e dançavam, ao som de uma velha radiola, alcunhada de "caixa de fósforo". Havia muitas brincadeiras e namoricos. Era uma verdadeira animação em tempos que por aqui não existia luz elétrica.
Outro atrativo por aqui era o PUCUMÃ DO LIRO. Nossa praia natural. Ao longo da semana, o local funcionava como ambiente para as mulheres lavarem roupas. Elas chegavam com grandes "trouchas". Sentavam à beira d'água, numa tábua de madeira. Outros aproveitavam para pescar piaba, traíra, cará e mandi. Mas aos fins de semana, era o ponto de encontro da moçada. A água era bastante agradável e as pessoas se divertiam numa sintonia de amabilidade e sossego, sem brigas ou consumo excessivo de bebidas. Os mais ousados subiam nas árvores que ficavam no leito da lagoa e pulavam na água fazendo piruetas. As roupas debanho eram bastantes comportadas, sem sem muita ousadia.
E o CABARÉ DO MANELZINHO! era o ponto noturno da maioria dos homens. Os meninos também iam espiar o movimento. Por lá, muitas histórias se passaram: de brigas, confusões entre bebedores e raparigas,entre raparigas e raparigas, de festas dançantes e casos amorosos esquisitos e secretos. Brigas eram muito comuns nesse ambiente. Algumas delas ocasionadas por por apostas em jogos de baralhos ou excesso de consumo de cachaças. Outras eram preconizadas pelas próprias raparigas, muitas vezes, em disputas por homens que frequentavam o cabaré.
As noites de PÉ DO MORRO ainda eram bastantes animadas em tempos de festejos juninos. Na véspera de São João, as pessoas já se preparavam desde cedo para as brincadeiras. As fogueiras que iluminavam nossas noites eram ornadas com velhos e secos pedaços de madeira. Cada casa procurava enfeitar a sua. Quanto maior a fogueira, mais demorado era seu consumo. Em meio ao consumo das brasas, assava-se batata e macaxeira, movimentadas por espetos de madeira. Uma das brincadeiras era roubar batata do fogo.
As crianças aproveitavam a claridade das fogueiras para brincar de "roda", e embalavam cantigas típicas, como " melão, melão, sabiá...; sabiá bebeu, bebeu...; fui no tororó... dentre outras. Os adutos ficavam por ali proseando, contando causos do dia a dia.
Éramos muito felizes nesse período. Não havia tanto movimento como hoje. A vida caminhava sem pressa. A comunidade era unida e fraterna. Compadres e comadres, filhos e pais se davam as mãos. Fomos crescendo e aprendendo com nossas tradições e nossas esperanças de dias melhores. Sofríamos em tempos de secas, mas nos alegrávamos em tempos de fartura. O que deixamos de herança que fique registrado na lembrança de cada um que viveu aqueles áureos tempos.
Roberto Araújo de Lima.